Expedição África: Tanger, Marrocos!

Para chegar ao Marrocos, existem algumas alternativas saindo da Espanha. A primeira e mais interessante para quem tiver tempo disponível (não era o meu caso), é ir por terra até Gibraltar (que dizem que é super linda a viagem) e de lá pegar um ferryboat para Tanger, que está a pouco minutos! A segunda opção e que foi a que eu fiz, é procurar com 2 a 3 semanas de antecedências voos entre Barcelona/Madrid e as cidades do Marrocos. Você irá conseguir voos diretos a preços competitivos (40-50 Euros), já com bagagem incluída. Comprei passagens de ida e volta independentes de acordo com o meu itinerário: Barcelona – Tanger e após duas semanas Marrakech – Sevilha (o que foi super conveniente para mim, por estar do ladinho de Faro, Portugal, minha próxima parada).

Quem tem amigo, tem tudo!! Essa é uma máxima que vale confiar! Em Barcelona, alguns dos meus amigos que também amam viajar e conhecer novos destinos já haviam se aventurado pelo Marrocos e num bate-papo entre una caña e outra, surgiu um contato que talvez poderia me ajudar, hospedar ou apenas me dar algumas dicas e que por muita sorte ou coincidência, morava na primeira cidade que iria desembarcar. Mandei uma mensagem pelo Facebook e esperei. Como não era um contato meu, ela demorou alguns dias para responder (apenas no segundo dia que eu estava na cidade) e a primeira noite eu acabei reservando um hotel.

Desembarquei no aeroporto de Tanger no final de maio (temperatura já estava próxima dos 30 graus), já havia consultado e sabia que o aeroporto estava razoavelmente longe da cidade. Com o meu francês básico (quase inexistente), consegui me virar bem com o espanhol e claro, os taxistas consideravam que, por falar essa língua, eu era europeu (mesmo com essa cara de uma mistura brasileira); logo eu tinha dinheiro e que eu era passível de pagar preços exorbitantes. Se enganaram e eu acabei negociando com mais de um taxista até encontrar um valor justo, 20 dólares por uma corrida de quase 50 minutos (o ideal é você trocar 50 dólares no aeroporto e depois na cidade você terá melhores taxas). Também dentro do aeroporto vale a pena você comprar um chip de celular com internet 3G/4G e que é super barato (2 gb de dados por menos de 10 euros).

Aqui tenho que confessar (bastante envergonhado) um pouco do preconceito que eu tinha até então de um país muçulmano: tudo que vemos na mídia hoje em dia é essa triste cruzada do bem contra o mal (o mal sempre representado pelos muçulmanos e o bem, sempre o homem cristão branco…). Era a primeira vez que eu estaria sozinho num país que eu teria dificuldades de entender a língua, com gente má por todos os lados… (A Turquia, apesar de ser de maioria muçulmana é bastante ocidental e menos conservadora que os demais países e como eu tinha vários amigos lá, me senti muito a vontade). Incrível como mesmo após viajar por tantos países, de conhecer tantas culturas diferentes, o pouco que eu leio nos jornais e o pouquíssimo que assisto a TV, a gente fica impregnado pelo medo e essa propaganda maligna que tentam nos vender… (não é atoa que estamos vivendo períodos sombrios no Brasil e no mundo)!

Veja que linda essa foto de Tanger no meu site de fotografia fine art.

Quadro de Arquitetura
Planeta em Fotos: Quadro de Arquitetura do Marrocos

Felizmente, o meu medo se dissipou em poucos minutos após desembarcar e ver pelas ruas, como as pessoas tentam levar suas vidas da mesma forma que outros cidadãos do mundo: trabalhando, lutando para superarem as injustiças sociais, crianças correndo e jogando bola pelas ruas, mulheres vestidas conforme a sua tradição e trabalhando arduamente… E ainda sim, depois que um total desconhecido abre a boca e fala Bonjour, um sorriso do outro lado se abre e responde da mais maneira mais sincera. Idiotas são a minoria e você encontra em qualquer lugar do mundo, não são exclusivos de uma ou de outra religião/região!

Cheguei no hotel e por minha surpresa era muito melhor que eu esperava, especialmente pelo preço (22 USD por noite). Com uma localização excelente, do lado de fora da Medina e próximo do centro da cidade, o quarto era gigante e bem confortável. Após deixar minha mala no quarto, corri para o restaurante, pois já eram quase 15h e só tinha tomado um café magro em Barcelona. Olhei as opções no cardápio e o que me chamou a atenção foi o atum vermelho com legumes (veio no mesmo instante a memória do melhor atum que havia experimentado na vida, em Lima no Peru…). Bom, vamos tentar, quem sabe seja tão gostoso quanto né!? Me serviram um chá quente com hortelã e açúcar suficiente para adoçar 2 litros de café (é assim que eles gostam quente e doce…), mandei mensagem para os meus pais avisando que estava vivo e que o preconceito deles (o mesmo que o meu) era pura bobagem! Finalmente o meu prato chegou!! Pela apresentação já tinha ganhado o meu coração… e o sabor!!! aiaiaiaiaiai e agora, qual dos atuns é o melhor!??? Num dia só, várias surpresas boas! Não consegui dar a medalha de ouro para nenhum dos dois… Um empate é bastante justo!

Maca, a espanhola que morava em Tanger, me mandou uma mensagem no dia seguinte sugerindo de nos encontrarmos para tomar um chá (o consumo de álcool é bastante restrito no país, especialmente em lugares públicos) para que ela pudesse me dar algumas dicas. Empatia é algo que você sente logo e como ela viu que eu não era nenhum psicopata e tínhamos amigos em comum, ofereceu, caso seria do meu interesse, para eu ficar no apartamento dela com o meu próprio quarto!! Como todo viajante de longo prazo e com um orçamento limitado, é claro que aceitei!! 🙂 Ela é professora de espanhol do instituto Cervantes (uma escola do governo espanhol que leva a língua para outros países) e já estava ali há alguns meses bastante feliz com a nova vida.

Tanger tem alguns lugares muito legais para se visitar. O primeiro deles é a famosa Medina, que é uma cidade bastante antiga construída dentro de uma muralha que era a proteção nos séculos passados (com o crescimento das cidades a Medina de Tanger virou um pequeno bairro). Durante o dia você pode caminhar seguramente pelas ruelas (irão testar o seu senso de direção o tempo todo) e você irá encontrar diversas tendas vendendo artesanato, comida, especiarias… Muitos irão te oferecer para te guiar ou te convidar para conhecer algum lugar específico. Se você for atrás deles, no final irão te cobrar por terem sido seu “guia” por alguns metros… Como já estava esperto, agradecia em francês e não tive nenhum problema. A Medina fica num dos pontos mais altos e de frente para o oceano (de lá a noite você irá conseguir ver as luzes de alguns pontos Europeus!).

O segundo passeio que eu fiz e que durou umas 3 a 4 horas e que eu gostei muito é Cap Spartel, Caverna do Hércules e as praias na região. Você precisa negociar com um taxista e combinar um preço fechado para fazer o tour completo (são dois os tipos de taxi na cidade: os azuis que são compartilhados e você paga super barato e divide com todos que estão indo na mesma direção e os beges, geralmente as mercedes antigas e que custam mais e você não divide com ninguém). Estes últimos são os que levam os turistas para os passeios. Vai te custar 10 a 15 dólares pelo passeio, mas vale a pena! Cap Spartel é um farol que fica na entrada do Estreito de Gibraltar e tem uma vista linda! A melhor vista de Gibraltar durante o dia e um dos melhores pôr-do-sol da cidade!

A caverna de Hércules está a uns 10 min do farol e é gigante! Quando o taxista para o carro, você acha que está entrando num resort 5 estrelas: tem um restaurante super chique (segundo o taxista, um dos mais caros da cidade que foi construído devido ao ponto turístico da caverna, mas que é independente e privado). A cidade construiu uma infraestrutura bastante grande ao redor da caverna (que perde um pouco das características rústicas no começo, mas dentro foi bastante preservado). O valor é pequeno, 5 dólares para entrar e é uma caverna que teve o impacto das ondas como um dos fatores em sua formação. Quando a maré está alta, as ondas invadem parte da caverna, mas nada que ofereça risco.

No caminho entre o centro e esta parte, você irá passar por um dos palácios do Rei que está num bairro que mais parece algum subúrbio rico de Paris. Bastante arborizado, com iluminação subterrânea, limpeza das ruas impecável, casarões dos magnatas locais e estrangeiros. Se o taxista passar devagar, você irá levar alguns minutos para percorrer a faxada frontal do palácio (super bem protegida por guardas e muros altos, mas os portões de ferro te permitem ter uma ideia da imensidão do lugar). Já na praia, irá avistar os primeiros camelos que são alugados para os turistas darem uma voltinha e tirarem suas fotos!

Mencionei que o país tem uma restrição grande para o álcool! Mas… se você tiver bons contatos, poderá encontrar os lugares permitidos, que geralmente são os hotéis destinados a turistas (Hotel Chellah possui um jazz bar excelente com música de qualidade ao vivo algumas noites por semana) e as casas de centros culturais de outros países, como por exemplo a Casa Espanha. Como estes lugares precisam de licenças especiais para a venda de álcool, prepare-se para pagar o mesmo preço da Europa (de Paris ou de Londres)! Como o meu intuito não era ficar bêbado, tudo bem tomar um chopp de vez em quando!

Se você fala bem o francês, terá uma boa opção cultural durante a noite para assistir os filmes não Hollywoodianos, na Cinemateque Rif, que fica muito perto da Medina e tem um café dentro onde muitos se encontram antes das sessões ou apenas ficam lendo seus livros. Eu fui apenas pelo café e para ficar observando um pouco do cotidiano das ruas, um bom passatempo!

Durante os 3 dias que passei em Tanger (tempo mais do que suficiente), parte foi usado para me programar mais e dividir o meu tempo até chegar em Marrakech (com tantas viagens curtas eu tento aproveitar o lugar que estou e somente procurar sobre o próximo destino dias antes ou somente quando eu chegar no local, o que tem suas desvantagens, mas eu consigo aproveitar o momento que estou curtindo). Fui visitar uma cidadezinha chamada Asilah (1h de trem), que possui uma Medina super charmosa, na beira da praia e muito organizada. É um passeio de meio-dia (eu peguei o trem das 8h e voltei as 13h). Foi bacana o passeio, mas se soubesse teria deixado de lado e seguido para as próximas cidade, Tetouan ou Chefchaouen (que estão na mesma direção). Como gastei um dia, tive que escolher e meus amigos disseram que Chefchaouen era imperdível!

Amanhã cedo vou madrugar para pegar o busão e hoje vamos tomar uma cerveja com jazz para despedir dos espanhóis que conheci por aqui! Já estou atrasado e sem banho! 🙂 Até já!

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