Triathlon com Vácuo Liberado – Dicas e considerações

No último Triathlon Short Distance (um triathlon com vácuo liberado) realizado em Pirassununga (2016) em Pirassununga,  um de meus alunos se espantou com o tempo dos 3 primeiros atletas no Geral Masculino, ao checar os resultados da prova. Eu respondi que isso se devia ao vácuo ser liberado.
Os 3 atletas em questão: Fábio Carvalho, Paulo Roberto Maciel Silva Junior e o Rafael Bezerra da Fonseca conseguiram fazer uma bela natação na casa dos 11min40 e com isso saíram com alguma liderança dos outros competidores. Esses 3 atletas, provavelmente foram muito felizes em trabalharem juntos revezando no pedal o que resultou em tempos de ciclismo de 2-3min mais rápidos do que o restante dos competidores mais próximos. Eles pedalaram em torno de 43km/h de média (menção honrosa para a Luiza que pedalou a etapa de ciclismo a 40km/h de média, impressionante se a atleta tiver pedalado sozinha!).
Mas se o vácuo era liberado porque não vimos outros triatletas com tempos de pedal próximos aos 3 primeiros atletas?

A resposta é falta de preparo! E antes que você se revolte, recomendo continuar lendo até o final do artigo. Ressalto também que nesse artigo não é para discutir os picaretas que pegam vácuo no Ironman para pegar a vaga para Kona, ok?

De onde surgiu o vácuo no triathlon?

Comecei a fazer triathlon em 1995, e pude acompanhar de perto a introdução das provas com vácuo no esporte.
Com a entrada do triathlon na Olimpiada de Sidney (2000), o esporte precisava se reinventar para ficar mais atrativo para as câmeras e por isso o vácuo foi liberado nas provas olímpicas. Os argumentos foram:

  • É mais fácil de organizar um evento, já que não é necessário um percurso de bike tão grande.
  • É melhor para os espectadores assistirem, com os atletas pedalando (e correndo) em um circuito, os atletas passam várias vezes no mesmo lugar.
  • É melhor e mais fácil para as provas serem transmitidas.
  • Facilita a arbitragem da prova, já que com o nível dos atuais atletas muito equiparado seria quase impossível ter uma prova sem vácuo na distância olímpica.

Na época muita gente falou, muitos atletas deixaram de correr provas curtas, mas penso que com isso o esporte cresceu.
Em vários países (como nos EUA), apenas os profissionais (Juniores e Sub-20 e Sub-23) tem a chance de correr nesse formato, mas no Brasil por falta de estrutura e preguiça das federações, muitas provas curtas tem o vácuo no ciclismo liberado.
Em 2016, a ITU (União Internacional de Triathlon), anunciou que os Campeonatos Mundiais Amadores na distância sprint passariam a ter o vácuo liberado a partir do Campeonato Mundial de Triathlon do México e essa tendência ainda se mantém!

Provas com vácuo são provas diferentes, acho que foi depois que elas apareceram que foi criada a máxima “Quem não nada não compete, quem não corre não ganha”. Muitos na época torceram o nariz para as mudanças, e diziam que o ciclismo iria virar um passeio, pois ninguém iria se exceder guardando suas forças apenas para a corrida.

Mas com o passar dos anos o que se viu foi o contrário, o ciclismo continua muito forte, concordo que as fugas são quase impossíveis de acontecer, mas mesmo assim o ritmo da prova dos profissionais está longe de ser um passeio, pelo contrário.
A maior mudança foi que a natação, que até então era o patinho feio do esporte, passou a ter mais valor. Sem nadar bem, ficava quase impossível de disputar as primeiras colocações do pódio. Colocações que para serem obtidas passaram a exigir corridas cada vez mais rápidas.
Na década de 1990, Leandro Macedo e Alexandre Manzan, dominaram o circuito mundial com suas corridas, na época corriam na casa dos 32min (para os 10km) e deixavam os gringos comendo poeira. Hoje, com essa corrida, mal dá pra ganhar o feminino!

Provas de Triathlon com Vácuo exigem preparação diferente

Tenho uma natação e corrida relativamente fortes, se comparadas ao meu ciclismo. E no passado era comum eu sair entre os primeiros da água e conseguir me encaixar no primeiro ou segundo pelotão.
Mesmo assim, confesso que acho as provas SEM vácuo mais fáceis, uma vez que nesse tipo de prova sua melhor performance depende de você manter o ritmo constante. Já nas provas com vácuo liberado (pelo menos para quem nada bem), o ritmo da prova é ditado pelo ritmo do pelotão e muitas vezes o esforço pode ser bem maior do que pedalar sem vácuo.

Pedalar no vácuo dá muita diferença?

No site 53×12, um dos sites mais famosos E POLÊMICOS de ciclismo, um artigo conseguiu quantificar de forma prática essa diferença.

“Dois ciclistas profissionais de tamanho parecido (1,85m e 75kg) pedalaram um trecho de 1km várias vezes, em diferentes velocidades, alternando suas posições: ora na frente ora atrás do outro ciclista.
O gráfico mostra a diferença de potência em watts entre pedalar na frente e pedalar no vácuo do outro atletas: a economia a 30km/h é de 60w, aumentando apara 120w a 40km/h e 220w a 50km/h.
É interessante notar que a 22-24km/h a economia é de cerca de 40w: uma vantagem considerável também para velocidades que são típicas de subidas, correspondentes a cerca de 10% potência de um ciclista que pedala a 400w.
Para um ciclista pequeno, essa vantagem é ainda mais significativa, especialmente se estiver pegando roda de uma atleta mais alto: 50W para um ciclista subindo a 320w representa uma economia de 15%”.
Diferenças energéticas entre se pedalar sozinho e no vácuo. A linha de cima representa o esforço em watts de se pedalar com a cara no vento, enquanto a linha inferior ilustra o custo de pedalar na roda de outro atleta.

Entendeu agora o tamanho da diferença do vácuo? Os 3 atletas do Short Distance, souberam usar muito bem o vácuo a seu favor. Revezando puderam pedalar em intensidades bem mais altas do que se tivessem pedalado sozinhos e abriram um distância considerável do restante dos competidores.

Porque triatletas não sabem pegar vácuo?

Vou colocar os motivos que eu acho que impedem que a maioria dos triatletas tire proveito maior do vácuo.

Falta de preparação:

Três coisas pegam aqui, primeiro a falta de dedicação ao treino de natação.

Sem nadar bem, você pode ser o Lance Armstrong que dificilmente conseguirá alcançar os primeiros atletas a saírem da água caso estejam pedalando juntos revezando o pelotão. Se este é o seu caso e você irá disputar uma prova onde o vácuo é liberado, trate de se dedicar aos treinos de natação. Lembre-se: quem não nada, não compete. Então trate de intensificar os treinos de natação para ter a chance de pegar uma boa roda. Sabe aquele pedal de domingo onde você enrola pedala por 4h? Então, pedale apenas 2h30 e reserve 1h30 para ir nadar, tenho certeza que você irá melhorar.

O segundo ponto importante é saber pegar vácuo e armar uma escalera. Um jeito simples de aprender é passar a treinar mais com os “espideiros”. Já que os ciclistas de estradas são muito mais habilidosos se comparados aos triatletas, e em poucos treinos você irá se sentir mais confortável pedalando no vácuo e saberá armar uma escalera de maneira correta. Mas lembre-se: nada de ficar no clip quando estiver no pelotão. Se quiser saber mais sobre o assunto não deixe de ler nosso Guia para aprender a pedalar no pelotão.

E por fim a parte física de uma prova com vácuo liberado. Uma prova sem vácuo a intensidade é constante, e a preparação envolve tiros mais longos perto do limiar anaeróbio. Já uma prova com vácuo, o esforço é mais intermitente, e frequentemente a etapa de ciclismo envolve fuga, ataques, perseguições e retomadas de curvas. Portanto esteja preparado, inclua séries de tiros curtos, arrancadas para estar preparado para as demandas da prova e principalmente treine em pelotões com ritmo mais forte do que você está acostumado a pedalar.

Equipamento:

São muitos os estudos que comprovam que as bikes de contra-relógio (carinhosamente apelidadas de Tetê – do inglês TT – Time Trial Bikes, ou bicicletas de contra-relógio), são mais rápidas do que bicicletas de estrada convencionais. Mesmo sendo mais pesadas as TTs, deixam o ciclista em uma posição mais aerodinâmica permitindo andar mais rápido para um mesmo esforço.

No entanto, essas vantagens são válidas apenas para percursos com predominância de retas onde o atleta pedala no clipe. Em percursos com muitas subidas, curvas e retomadas de velocidade (muitos retornos), essa vantagem diminui já que obriga o atleta a sair do clipe a toda hora, e se você não conseguir pedalar no clipe não há porque usar uma TT. Fazer curvas e arrancar em uma TT não é tão bom. Em subidas então, nem se fala. Uma bicicleta de ciclismo convencional (uma speed) é muito mais eficiente para vencer subidas longas. O gudião tradicional de speed possui diferentes pegadas e facilita você encontrar uma posição mais eficiente para subir. Esse mesmo gudião dá muito mais segurança nas descidas do que um gudião de contra-relógio (pursuit bar). Além de que a relação das bicicletas de ciclismo normalmente é mais leve (ou tem uma extensão de marchas maior) do que uma bike de triathlon.

Se você for fazer uma prova com o vácuo liberado, deve considerar usar uma bicicleta de ciclismo, caso você possua uma. A speed irá facilitar o ato de pega vácuo, responder aos ataques e dará mais segurança ao atleta nessa situação de prova.
E que fique claro uma coisa, não é porque você pedala uma bike sem clipe que você é menos triatleta, ok?

Experimente fazer um triathlon com vácuo e tenho certeza que você irá gostar!

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